sábado, 3 de março de 2007
É tempo de suspender
Hoje liga-me o Sr. José Amorim - líder do CDS-PP em Ponte de Barca, um dos concelhos afectados por estas medidas. Como havia anunciado uma conferência de imprensa para as 13:00 a maioria dos órgãos de comunicação social acabam por fazer entrevistas e obter declarações por telefone. É sábado e os jornalistas também descansam.
Começo, mais uma vez, cedo: eram 7:30 e já estava a dar a 1ª entrevista do dia - das muitas que se seguiram.
Entretanto chega o deputado do CDS-PP por Viana do Castelo, Abel Baptista, logo seguido por Fernando Moreno. Vem também visitar-me um dos militantes mais antigos e fieis do CDS-PP em Arcos de Valdevez: O Sr. Rodrigues.
Recebo um telefonema pelas 12:30. Era Paulo Portas e vinha também manifestar o seu apoio à minha luta e a sua preocupação pessoal com o meu estado de saúde. Acabo por descobrir que o casal que lhe cuida da casa é constituído por 2 arcuenses há muitos anos radicados em Lisboa.
Pelas 13:00 suspendo a greve de fome por um período que pode ir de 15 dias a 3 semanas, de acordo com o evoluir da situação.
Como o primeiro naco de broa de Soajo pelas 13:00 em ponto. E de seguida vou finalmente ao DNA tomar um leite achocolatado e uma torrada - preciso de comer pouco e calmamente de forma a habituar gradualmente o meu corpo aos alimentos. Ainda faltam uns dias para poder atirar-me a um cozido à portuguesa ou a outros petiscos. Curiosamente não foi da comida que senti mais falta estes dias - foi o estar confinado a um espaço de 50mx50m 24 horas por dia, e da liberdade perdida durante estes 4 dias de greve de fome.
sexta-feira, 2 de março de 2007
Chega sexta...
Sexta-feira chegou cedo. Como o SAP(inho) dos Arcos é pequeno acabei por dormir nos bancos da sala de espera. Nada mau... obrigou-me a acordar cedinho e nada fresco.
Análises feitas aos níveis de açúcar e à tensão. Níveis normais ainda. Nada de novo. Entretanto, na noite de quinta-feira aconteceu uma pequena revolução esperada e pressentida há algum tempo dentro do CDS-PP.
Durante o dia passam alguns presidentes de Junta que me vêm dar algum alento, deixando palavras de incentivo. Talvez devido às preocupações internas e ao aniversário do filho do presidente do partido desta vez ninguém ligou (do partido obviamente) com excepção de Abel Baptista. Começa a doer não haver uma declaração pública de apoio de alguém do partido, mas mais uma vez, atribuo esse facto ao aniversário do filho do presidente.
Ligam-me da Rádio Valdevez a perguntar se ainda cá estou. Respondo que não... que não estava cá.... que já tinha ido embora. Que raio de lata!
Às 20:00 perfiz 3 dias completos de greve de fome. Não sei o dia de amanhã. Mas acho que é tempo de começar a pensar em sair de cena e deixar o palco vazio para que nenhuma negociação possa ser travada devido à minha greve.
Espero marcar uma conferência de imprensa para as 13:00 de sábado.
Mas ainda não decidi. Decidido está que amanhã a greve não acabará. Poderá, quando muito, ser suspensa de forma a que a minha greve de fome não sirva de argumento para uma ausência de negociações.
quinta-feira, 1 de março de 2007
Defender a comunidade
Não pretendo, nem entendo, esse sacrifício nos tempos modernos como O supremo sacrifício. Mas sim o dar um pouco de cada um de nós em prol dos outros.
Dito isto é tempo de falar de quinta-feira. Dia de "ressaca" após o tumultuoso dia de quarta-feira. Os jornalistas, mergulhados no dia-a-dia, esqueceram a minha luta - chamados por outras, quem sabe se mais importantes. Mas foi bom - tive um dia calmo. Telefonemas de amigos. Palavras de apoio da população.
É tarde.... e acho q vou descansar. Amanhã é o dia em que as coisas se podem começar a complicar para a minha saúde - que continua de ferro até ao momento ("estás como o aço" como diz um amigo meu.)
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
Dia da manifestação
Acordei cedo.... ainda não eram 6:20 e já a urgência das notícias me tirou do breve sono - eram 4.48 quando tinha acabado de colocar o 1º post neste blog não de protesto mas de defesa e passada hora e meia já estava novamente completamente acordado.
Durante a manhã mais uma série de visitas de amigos, da população que vem mostrar o seu apoio.
Alguém liga a informar-me que está imensa gente na manifestação (eu não acompanhei o trajecto, visto que o meu protesto é cumprir a greve de fome no SAP). Não sei o o que se disse nos discursos proferidos na Praça Municipal. Mas não deve ter andado muito longe do que se tem vindo a dizer nos últimos dias sobre esta questão.
Mais uma série de entrevistas... rádios, jornais e televisões. E mais palavras de apoio e de incentivo "é ele que está a lutar por nós" é a frase mais ouvida.
Surge a manifestação que se desloca lentamente ritmada por bombos - tão característicos do Alto-Minho. A tensão e a adrenalina sobem conforme se aproxima da zona do Centro de Saúde.
Os bombos troavam agora com mais fulgor e as palavras de ordem ganham uma nova força.
"Por nós... ajude-nos doutor", "Quem vai cuidar de nós?" "Façam alguma coisa que ninguém se importa connosco" "ninguém quer saber de nós"
A maioria dos manifestantes é idosa - num concelho maioritariamente constituído por idosos outra coisa não seria de esperar.
Algumas referências à famosa greve de fome do Eng. Daniel Campelo, e gritos de incentivo. Muitos. Respondo que no CDS/PP é assim que defendemos a comunidade: com força, vigor, convicção e determinação.
Abel Baptista liga-me (numa série de telefonemas que se estenderam ao longo do dia), seguido de Pedro Mota Soares e Nuno Melo.
Chamam-me para integrar a manifestação, o que faço com gosto e honra. Passados poucos momentos já estava novamente numa espiral de entrevistas que acabou pelas 15:30... [tomar nota mental - começar a organizar melhor os timings e momentos das mesmas... senão corro o risco de ficar sem voz, mas não calado].
O resto da tarde passou rapidamente - de referir que o SAP funcionou todo o tempo, nunca tendo as ambulâncias parado de chegar.
Entra uma mãe desesperada, com o filho deitado numa maca, prostado e com sangue por todos os lados. Ao sair do autocarro escolar tinha sido atropelado. Receava-se uma fractura craniana. Prestados os primeiros socorros e estabilizado o paciente (é incrível as coisas que aprendemos quando passamos algum tempo numa urgência) é efectuada a transferência para Braga, que tem a valência de neurocirurgia.
É este momento que o Presidente do Partido, Dr. Ribeiro e Castro escolhe para me ligar, manifestando o apoio e compreensão pelas causas da minha luta.
Agora quase me apetecia dizer que a hora de jantar se aproximava (piada de mau gosto).
Mais uma série de pessoas passa pelo SAP.
E mais uma noite se aproxima - esta que espero mais repousante e mais longa - estou cansado embora em plena forma.
E está dado o 1º passo
Este é o blog de suporte à greve de fome, em defesa da manutenção do SAP, vulgo urgências, de Arcos de Valdevez, que estou a fazer, por tempo indeterminado.
Pretendo fazer neste espaço "uma espécie" de diário da minha greve de fome.
São neste momento 4:48 da madrugada de Quarta-feira - o dia grande deste protesto. Dia de Manifestação da população (os "utentes") que espero decorra de forma civilizada e sem incidentes que desviem a atenção do ponto importante nesta questão: a manutenção do serviço (e pela parte que me toca podem chamá-lo do que quiserem: SAP, sapinho ou sapão - o nome não é importante, o que importa é o conteúdo).
A noite decorreu calmanente, com alguma afluência - duas jovens mamãs com os respectivos bébés (num concelho com a desertificação humana galopante, como é o caso de Arcos de Valdevez, fiquei admirado de ver 2 bebés numa urgência que se diz ter de fechar por falta de utentes. Idosos vários com maleitas várias - daquelas que só aparecem com a idade, e são comuns nos nossos idosos. E algumas pessoas de meia idade. Chegou há alguns momentos uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Ponte da Barca, concelho vizinho que usa os serviços do SAP de Arcos de Valdevez.